Mesmo não estando presente na lista de Melhores Animes de 2011 deste blog, Fate/zero sem dúvida será um dos animes mais lembrados daquele ano por muito tempo graças a uma mistura bem-pensada e executada de ação, drama e maquinações feita de forma a cair no gosto popular; afinal, qual o segredo deste prequel em tantas maneiras superior ao original?
Introdução
Fate/stay night é uma Visual Novel publicada pelo conhecido grupo TYPE-MOON em Janeiro/2004 que além de virar referência no meio também conseguiu virar uma verdadeira franquia que engloba outros jogos, mangas e – algo raro – diversas animações relacionadas.
Do hit homônimo de 2006 para a TV até os OVAs descontraídos da série Carnival Phantasm, praticamente tudo o que carrega o poderoso nome que evoca uma história de fantasia moderna com ação, drama e romance faz sucesso, assim por que não adaptar a conceituada prequel em light novel escrita por Gen Urobuchi [Mahou Shoujo Madoka Magica] para a telinha?
E após o retumbante sucesso de Kara no Kyoukai, série de filmes baseado em outro livro do TYPE-MOON, a conhecida produtora ANIPLEX não se incomodou em organizar uma produção cara e bem-cuidada reunindo do estúdio de animação ufotable a uma equipe comandada pelo diretor Ei Aoki [Ga-Rei-Zero; Hourou Musuko] e com a presença da elogiada compositora Yuki Kajiura [Kara no Kyoukai, Madoka Magica, Noir]. Dois cour, vinte e cinco episódio para Fate/zero poder brilhar.
Desenvolvimento
E o Primeiro Episódio, com duração de 47min45s [incluso créditos], acaba sendo um verdadeiro teste de paciência para o espectador que acompanha lentamente todo um complexo e intricado jogo de xadrez sendo montado em sua frente através de diálogos pomposos e algo excessivamente expositivos sendo vomitados da boca dos personagens enquanto andam literalmente em círculos.
Sem dúvidas é algo bacana, mas acaba sendo lento demais para ser realmente ultrapassar a barreira do fandom; aqui mesmo a série decide que sem dúvidas quer ser popular, mas dentro de um nicho – no que funciona muito bem.
O que seria um battle shounen [o gênero por excelência da animação japonesa e que nos deu Dragon Ball, Naruto e Saint Seiya] para otaku?
Se To Aru Majutsu no Index acaba sendo uma resposta mais óbvia, Fate/zero acaba sendo uma maneira alternativa de abordar a questão com todo esmero e diversas camadas de polimento para fazer algo simples [um Cálice Sagrado que pode realizar qualquer desejo será de quem ganhar uma Guerra que envolve sete Mestres e sete Servos, grandes figuras do passado trazidos por magia e que resolvem tudo com distintos superpoderes].
E ao contrário de um Katanagatari que pretende a sua maneira descascar o gênero desde o primeiro minuto, aqui o mais importante é atrair as multidões com uma imensa construção de mundo [e em menor parte dos personagens] que será inevitavelmente implodida com estilo na segunda metade da série. Mas antes deste assunto – que será desenvolvido em artigo posterior – vale a pena analisar o roteiro a partir das duas linhas principais adotadas neste.
Linhas de Enredo
A primeira delas é claramente um desdobramento do enredo de Fate/stay night e foca-se na Saber, uma das diversas protagonistas desta obra tão fragmentada, e sua noção de heroísmo; de adequado em Fate/stay night, aonde amadurece juntamente com o protagonista deste, a inocente e sem sentido no mundo cruel criado por Gen Urobuchi.
Apesar da ampla cautela também intrínseca a personagem, em diversos momentos sua elegância e altruísmo acaba levando a decisões e pensamentos incompatíveis com tudo o que anda acontecendo aqui; claro que isto terá ainda mais desenvolvimento na segunda metade da série, mas vale notar que a conversa entre reis [mais AQUI] é notória em mostrar o quão a bela loira está deslocada e fora de seu habitat natural aqui.
Mas o que realmente interessa a nós aqui é o conflito entre Kiritsugu Emiya e Kirei Kotomine. Duas cascas “vazias” mas extremamente determinadas em atingirem seus objetivos, não importa o que seja necessário para isso. Não há espaço aqui para heroísmo ou vilania aqui, temos aqui simplesmente personagens que são feitos para serem apreciados mais do que humanizados e compreendidos por nós.
Aliás, não só estes – apesar de termos como exceção a dupla de alívio cômico presente aqui composta pela química impressionante presente entre Rider e Waver, os personagens de Fate/zero tem como característica básica o fato de estarem muito acima de nosso mundo, de não serem seres humanos convencionais. Aqui o Nasu-verso acaba decidindo quem se torna fã ou não de uma série que não é conhecida por ter os personagens mais carismáticos do mundo.
Mas se os dois são tão semelhantes assim, aonde está o conflito?
A resposta a pergunta acima acaba estando nas mãos de Irisviel von Einzbern, com quem Kiritsugu acabou se envolvendo em um casamento arranjado no qual em algum momento acabou surgindo amor. E é o amor deste por sua esposa e filha [Ilyasviel] que o diferencia de Kirei e que mais a frente será componente decisivo para como a série irá terminar.
Mas como já deixado bem claro por Gen Urobuchi em uma entrevista ao Anime News Network, temos aqui só o começo – sim, muitas questões serão deixadas explicitamente em aberto para serem resolvidas somente em Fate/stay night [que com certeza será muito assistido logo após muitos chegarem ao final de Zero].
Parte Técnica
Dito isto, hora de falar um pouco sobre a sensacional parte técnica aqui presente. Mesmo aqui presentes uma ou outra limitações naturais para uma série televisiva, a animação é competente como a de um caprichado OVA; personagens muito bem desenhados [mesmo que com cabeças falantes em diversos momentos], fotografia caprichada, pensada e sóbria e lutas simplesmente soberbas. Pode faltar uma experiência cinemática em alguns momentos mais grandiloquentes [afinal, um prédio de duzentos metros de altura já foi abaixo e a brincadeira ainda nem começou], mas no geral esta não faz falta.
Já a trilha sonora de Yuki Kajiura é bacana como sempre e possui sem dúvida nenhuma diversas faixas muito bacanas; trabalho muito do correto, pena faltar um pouco da magia presente em outras obras desta. É bom, mas não é o destaque aqui.
Versão BD BOX – afinal, mudou alguma coisa?
Fate/zero passou em uma versão muito boa na televisão japonesa, mas que acaba não sendo a definitiva; somente no BD BOX podemos ter acesso a cenas adicionais que somadas dão bons quinze minutos de interações adicionais entre os personagens que se encaixam de forma natural na montagem dos episódios [veja mais sobre o principal episódio deste primeiro cour aqui]; assim, esta é a versão a ser vista.
Muito se comentava sobre possíveis cenas a mais com atos de violência “censurados” pela equipe na transmissão televisiva e que integrariam o BOX para garantir vendas maiores aos produtores; um toque aqui e ali até acontece, mas a impressão geral sobre a série neste quesito é exatamente a mesma: coisas ruins e nojentas acontecem, mas por diversas vezes basta o espectador saber disto sem que seja agraciado por violência gráfica; os mais puritanos agradecem.
Especial – Onegai! Einzbern Soudanshitsu
E além dos treze episódios em si o BD BOX da série trouxe uma série de extras, que geralmente consistem em uma embalagem excepcional – da caixa a uma série de frufrus [adesivos, pôsteres, artbooks, enfim] – presentes; se aqui isto não poderia ser diferente, também tivemos a presença da trilha sonora da série, de um Drama CD [também brinde convencional nestes casos] e, como destaque, os três primeiros episódios – com dez minutos de duração cada – da série chamada Onegai! Einzbern Soudanshitsu [Por Favor! Sala de Consulta Einzbern].
Esta consiste em basicamente uma maneira agradável de algumas perguntas não tão importantes para o desenrolar da história da série, mas que atiçam a curiosidade dos fãs, serem respondidas: afinal, como surgiu a Guerra? O que é a magia no mundo de Fate? Principalmente nos dois primeiros segmentos isto é respondido entre uma gracinha e outra das protagonistas Irisviel e Estudante Número Zero [Zecchan].
Mas grande parte do terceiro segmento ser dedicado ao Assassin muda um pouco o tom presente, desde toques de ironia e paródia a própria série como o mínimo enredo ao realmente termos uma consulta [no qual o servo acaba explicando de forma didática sua origem [com referências a sua inspiração no mundo real].
No geral, um especial tão bobinho quanto um episódio da praia [ou de Carnival Phantasm] mas sem dúvida nenhuma recomendado para os fãs mais curiosos sem qualquer contra-indicação; mas claro que pode melhorar na já prometida continuação a vir com o BD BOX II.
Conclusão
Fate/zero é um legítimo blockbuster em formato de animação japonesa: produção caprichada e detalhada fundada em alto orçamento no qual uma história com potencial é muito bem talhada até conseguir agradar a uma grande parcela do fandom, desde quem curte porradaria até os eternos conspiradores e teóricos.
Entre a inesperada dupla dinâmica formada por Rider e Waver até a crueldade de um Caster, há de tudo um pouco. O ritmo é lento e o TYPE-MOON como sempre soa mais pretensioso do que deveria, mas Fate/zero é bacana o suficiente para agradar gregos e troianos. E bem, estes treze [quatorze] episódios são apenas o começo…
Alguns animes são feitos para brilhar. Fate/Forever
Belo post nele foi citado alguns pontos que me agradam muito se tratando de Fate/Zero, sendo o principal a violência gráfica que como dito não tem um grande papel. Não que eu seja um puritano mas esse artificio muitas vezes não me agrada; sei que em alguns pontos é necessário mas normalmente só é usando para chamar a atenção do publico sem um significado maior ou importância, diferente do que acontece com os mangás de Zetman e Berserk onde realmente isso é tratado de uma forma mais madura.
PS: Berserk apesar de se conhecido pela violência é muito mais que isso caso contrario não seria um do meus mangás favoritos.
Sim, concordo plenamente com isso – uma opinião ainda não definitiva mas sem dúvida mais refinada do que poderia escrever aqui está presente neste post aqui: http://nahelargama.wordpress.com/2011/12/04/blood-c-trailer-consideracoes/ | violência é legal e doses fortes podem ser necessárias, mas também não precisa virar masturbação.
Bom, acho que não faz falta o tom mais hardcore do light novel (e presente no mangá do mesmo) na versão anime. Fate/Zero tem uma audiência que definitivamente não combina com certas passagens extremamente chocantes do original e acho que o ufotable (e com certeza deve ter dedo do Type-Moon também) fez a escolha certa, de dosar isso. Até mesmo porque eles não simplesmente riparam isso, apenas deixaram a margem onde, qualquer um consegue compreender o que acontece. E tem o lance também de que a adaptação basicamente visa o público do original, mas não sei o quanto de verdade tem nessa afirmação, mas certamente o grosso das vendas, vem desse público. Estou beem satisfeita com os rumos tomados e já esperando remake de FSN huehuehueheuehuehuhuehuehue. E claro, a animação da rota mais famosa do Fateverso.
Excelente post, hein, Cuerti. Seus posts costumavam ser mais truncados antigamente, mas agora estão bons de se ler numa respirada só.
Sim, acho a cena no episódio sete aonde a Saber somente vê as criancinhas mortas [com a tela bastante escurecida] bastante eficiente em passar esse sentimento de desespero sem ter que mostrar… as criancinhas mortas.
E que bom que estou melhorando, sempre bom ler isso de uma leitora antiga como você.
So corrigindo.
Urobuchi Gen não é criador,aele so escreveu,mas de resto é do Nasu,por isso ele estava querendo dar os créditos para ele.
Como assim “só escreveu”?
Tá certo que o universo foi criado pelo Nasu, mas dentro das regras deste o Urobuchi criou uma história totalmente nova, colocando diversos elementos [Rider!] da maneira que quis; é como falar que os livros de Star Wars foram todos criados pelo George Lucas [quando não foram].
a 4 guerra ja teve referencias na VN,tanto que seu final é contado na rota Fate (ultimo episodio do anime aparece,mas so como uma lembrança do Shirou),e outras coisas como a Saber ter conversado com o Kiritsugu apenas 3 vezes.
Gen Urobuchi: The process was that I drafted up a proposal for the new characters and the plot, and showed it to Nasu-san for his supervision. However, consequently, 90% of those proposals were accepted as they were already Nasu-san’s ideas. As for character names, Hisau Maiya was only character name that I suggested. The other characters were all named by Nasu-san.
ou seja,Urobuchi tem creditos como escritor e o Nasu como criador em F/Z tambem,não apenas como criador do F/SN.
sem contar o fato de Fate/Hollow Ataraxia e Fate/Zero foram produzidos na mesma epoca… mas esse é outro caso.
Sim, até teve colaboração mas o livro mesmo é do Urobuchi; e nesse caso acho que o respeito em excesso típico dos japoneses acaba é interferindo nessas entrevistas, que nunca são lá muito verdadeiras.