Sekai no Chushin de ai wo sakebu – Um grito de amor do centro do mundo – Livro

Uma das principais características da indústria do entretenimento japonês é adaptar uma obra para as mais diferentes mídias; mangas viram animes, doramas, filmes, livros, games, enfim, o que for possível. Essa mescla garante não somente um maior número de fontes de lucro, mas também uma auto-alimentação. O exemplo mais típico são os aumentos de vendas dos mangas quando um anime estreia, é o marketing que gera lucros para si e para as outras obras derivadas.

Entendendo esse ponto como fundamental para a forma como a cultura pop japonesa se expande, hoje irei começar um novo estilo de posts onde pretendo analisar (na medida do possível) um obra em seus diversos reflexos, buscando compreender as diferenças, qualidade e defeitos de cada um.

Aproveitando a data de hoje – Dia dos namorados -, o primeiro título a ser pensado nesse esquema será Sekai no Chushin de ai wo sakebu ou como ficou traduzido para o português Um grito de amor do centro do mundo. Hoje irei comentar sobre o seu livro, para depois falar do manga, dorama e filmes.

Kyoichi Katayama

Tradução: Lica Hashimoto | Ficção – Romance – Drama | ISBN: 9788579620423 | Lançamento: 25/01/2011 | Formato: 15 x 23 | 160 páginas | Preço: R$ 28,90

Lançado em 2001 pelo autor Kyoichi Katayama através da editora Shogakukan, “Sekai no Chushin de ai wo sakebu” rapidamente virou um best-seller, ultrapassando a marca de três milhões de cópias vendidas. O livro é um dos maiores expoentes em um estilo de entretenimento de forte influência no Japão conhecido como “Morte-e-choro”, marcado por sua forte carga emocional com o intuito de fazer o consumidor (seja do livro, filme, dorama ou manga) descarregar suas emoções. Também é um dos principais títulos de uma tendência de entretenimento que ganhou forças no Japão na década de 2000, o jun’ai – Pure love. Aqui temos histórias de amor caracterizadas por sua idealização extrema – um amor eterno, fácil, incondicional, que mesmo a morte não pode apagar.

Adaptado como “Um grito de amor do centro do mundo” pela Editora Objetiva através do seu selo Alfaguara, o livro de Katayama chegou ao Brasil no dia 25/01/11, recebendo pouca atenção dos sites brasileiros especializados em notícias do entretenimento japonês (salvo o Japan Pop Cuiabá, por onde eu descobri que ele havia sido lançado), mesmo que esse seja o livro que deu origem ao manga Socrates in Love, lançado no Brasil pela editora JBC.

A história, narrada em primeira pessoa pelo adolescente Sakutaro “Saku” Matsumoto, já inicia sem rodeios. Nas primeiras páginas descobrimos que Sakutaro vive em uma forte depressão após a morte do grande amor da sua (curta) vida, Aki Hirose. A partir daí vamos conhecendo, entre idas e vindas do presente para o passado, a história do casal através de pequenos fragmentos de suas vidas – do início de uma amizade, a descoberta do amor, um namoro puro e o trágico final.

Aqui já é preciso fazer uma ressalva; dada a característica da sua narrativa, o leitor pode ficar desagradado em alguns momentos, especialmente quando temos que acompanhar o sofrimento de Sakutaro. Se ao passarmos para os momentos de alegria e paixão temos um texto simples e despretencioso, mas agradável pela assimilação que o leitor faz com felicidade alheia, ao retornarmos para o presente as coisas são diferentes. Não só é difícil se colocar no lugar do protagonista, como também é chato ouvi-lo se lamenter de forma tão intensa – para não dizer exagerado.

O texto de Katayama é simples, focado em mostrar os sentimentos dos personagens da maneira mais crua possível. Personagens esses que vivem em um mundo à parte – amizades são basicamene inexistentes, a família faz pouca diferença – O foco é em todo momento o relacionamento puro de ambos. Mesmo na sua única side-story, onde o avô de Sakutaro relata a sua própria história de amor, é fácil perceber que tudo é apresentado para reflexão da história principal.

Sendo um romance adolescente, seria impossível não falar sobre sexo, mas mesmo esse tema é tocado de uma maneira pueril. Felizmente não temos aqui adolescentes assexuais, mas sendo o livro caracterizado por sua idealização, é lógico prever que o erotismo presente não irá passar de uma curiosidade adolescente, funcionando justamente para aumentar esse caráter de pureza.

Se você busca um romance mais verossímil, fique longe de “Um grito de amor do centro do mundo”, definitivamente não irá encontrar. Mas o livro – curto, 160 páginas – serve para o seu propósito de externalizar as emoções dos leitores mais sensíveis. Através dos seus diálogos pseudo-filosóficos – e difíceis de acreditar que estão saindo da boca de adolescentes de 16 anos – o texto prepara o leitor para aquilo que ele já sabe que virá. É uma forma de buscar vulnerabilizá-lo e maximizar a experiência da tristeza.

O trabalho da Editora Objetiva é muito bom. Apesar de uma certa inconstância no seu padrão de tradução, com alguns termos explicados em rodapé, outros adaptados e outros sem nenhum tipo de explicação mesmo, a editora traz uma tradução bem realizada por Lica Hashimoto em um texto fluido. As páginas são de qualidade, com uma textura gostosa de se folhear. Outra coisa que chama atenção é o design da capa; bonito, chamativo e estiloso, sem perder o padrão de capas do selo Alfaguara, sempre com um retângulo grosso horizontal e um fino na vertical (melhor ver na imagem do início do texto do que com essa minha explicação), ainda que tenha pouca ligação com a história em si.

Custando apenas R$28.90, seja pela história (se você for do público-alvo desse tipo de narrativa) ou pela qualidade gráfica, certamente vale a compra sem medo, servindo para uma leitura despretenciosa em uma única tarde.

Mas se você não quiser arriscar seu dinheiro em algo que não tem certeza de que irá gostar, a Editora Objetiva disponibiliza no seu site de forma gratuita as primeiras 47 páginas, algo que é de se elogiar e que deveria ser copiado pelas editoras de mangas no Brasil.

Clique aqui e boa leitura!

Onde comprar:

Livraria Saraiva

Livraria Cultura

PS: O que você acha desse esquema novo do blog para análise em diversas frentes?

Uma das principais características da indústria do entretenimento japonês é […]

12 thoughts on “Sekai no Chushin de ai wo sakebu – Um grito de amor do centro do mundo – Livro”

  1. Excelente recomendação, te agradeço muito pois adoro esse tipo de romance. Muito interessante essa sua proposta e tomara que venham muitos outros posts parecidos.

    A próposito, já leu o livro que originou o mangá e dorama de 1 Litro de Lágrimas? É lindo. Infelizmente, acho que ainda não foi lançado por aqui.

  2. Encontrei o título garimpando numa livraria de Cuiabá, e depois que comprei fui pesquisar pra saber quando tinham lançado. Achei estranho que vários sites nem noticiaram o livro, mas sorte que encontrei referências sobre ele nos blogs de literatura.
    Ainda não li, mas acho que pelo fato de eu ter visto o dorama primeiro, vou ter muitas expectativas em cima.

    1. @Vorspier

      Estou na metade do dorama e o livro até o momento tem se mostrado muito melhor. Ainda comentarei sobre ele.

      Gyabbo!

  3. [SPOILER]

    Como esse livro mexeu muito com sentimentos pessoais, acabei escrevendo minha resenha no skoob pra não expor no seu blog porque tenho vergonha. XD

    Mas preciso discordar do que disse neste trecho: “Não só é difícil se colocar no lugar do protagonista, como também é chato ouvi-lo se lamenter de forma tão intensa – para não dizer exagerado”. Não achei nem difícil, nem chato e muito menos exagerado. Pelo menos ao me colocar no lugar dele, consigo sentir a dor do protagonista – na minha experiência pessoal do primeiro namorado, que eu tinha certeza de que me casaria com ele e de que tudo era perfeito, é triste pensar na situação acabando de maneira abrupta com a morte de um dos dois – diferente de quando um relacionamento termina por desgaste. Na minha opinião, esse contexto faz toda a diferença. Não acredito que é uma tristeza forçada dentro do contexto.

    (ou talvez eu esteja impactada porque faz uma hora que terminei de ler e daqui a umas semanas ache muito ruim XD)

    Também me senti um pouco chateada com o comentário sobre os assexuados. Não entendo qual é o problema com eles. Aliás, literatura que “apela” para o erotismo geralmente perde parte do brilho pra mim (com raras exceções) – e sinto que esse livro apelou de leve, portanto…

    Sobre o dorama, vi uma resenha no skoob dizendo que é bem melhor que o livro. Acho que vai de pessoa pra pessoa. XD O fato é que detestei o mangá.

    Quanto à sua ideia de postar comparações entre reflexos das obras, achei excelente! Parabéns pela iniciativa! Estou curiosa pra ler os desdobramentos das análises! Antes de ver o dorama, no entanto, vou me recuperar dessa depressão que me acometeu desde que comecei a ler esse livro hauhua T-T

    1. @Lali

      Então, eu acho que vai muito de como o leitor se sente e se projeta no personagem. Pessoalmente, quando a leitura voltava para o Sakutaro do presente, eu só conseguia pensar em como ele estava sendo chato, como ouvir toda aquela reclamação era enfadonha. Entendo o momento pelo qual ele estava passando e com certeza a dor seria gigantesca e de longa duração. É um amor que se perde pra uma doença, o sentimento de impotência é grande demais, só que isso é algo pra ele. Eu como leitor achei chato acompanhar esses lamúrios em primeira pessoa.

      Sobre a parte da sexualidade, não entendi bem seu comentário. Eu na verdade elogiei o livro por não fazer dos personagens seres assexuados, ainda mais por serem adolescentes. Não considero apelação as partes em que o livro fala sobre isso, achei natural e bem colocadas.

      E pode esperar! Primeiro vem a análise do manga e depois a do dorama.

      Gyabbo!

  4. @Lais
    Sério que te bateu uma deprê?? Fiquei entre esse livro e os do Murakami pra te dar de presente, mas no final acabei levando esse porque achei mais o seu jeito. No próximo níver, vou tentar achar um livro menos triste pra você. >_<

  5. @vorspier

    Sim, fiquei muito deprimida! Mas isso não é necessariamente ruim. Gosto muito dos livros que mexem comigo, porque eles mudam alguma coisa no modo de encarar a vida. Mas acho que deixei mais claro que gostei bastante do livro na resenha! Você já começou a ler? Estou curiosa para saber seu ponto de vista.

    De qualquer modo, muito obrigada! ;____;~

  6. Acho ótimo! Adorei a dica de leitura! Seria legal se continuasse a publicar resenhas de livros orientais.
    Nem sempre encontramos bons espaços para isso.
    Parabéns pelo trabalho. Beijos!

  7. Eu não sei porque, mas eu vejo de novo um novo romantismo siurgindo. Apesar de todas as classificações tudo converge poara o modelo paltônico de amor em que não há espaço para o lugar comum do dia-a-adia e o amor alcança limites muito mais altos que a vida comum.

    É basicamente isso o que o livro fala. Não que seja ruim, mas todos sabemos que esse tipo de fórmula costuma vender e muito e foi repetida inclusive por mais de um autor ou outro. Sobre o exagero dos sentrimentos tente ler os sofirmentos do jovem Werther. A mesma coisa ocorre várias e várias vezes. Aliás esqueceu do clássico Amor de perdição de Damilo Castelo Branco?

    Acho que isso é um modelo de classificação segundo o momento e a moda, mas continua com idéias e filosofias antigas batidas. Não sei porque classificar de novo algo que pode ser facilmente rotulado por outros modelos. De qq modo a review me deu curiosidade para ler o texto em primeira mão.

  8. Ah, sim e mais uma coisa: concordo com a JAcqueroll. É díficil sair de Akutagawa e alguns autores muito conhecidos e tentar se aventurar por outras terras. Tentei ler Kokoro de Natsumi Soseki e o resultado foi tédio extremo. Embora eu goste de sua obra “Eu sou um gato”.

Deixe sua opinião