O final de Bakuman

Este post possui muitos spoilers sobre Bakuman, incluindo seu final. Leia por conta e risco.

Depois de quase quatro anos de publicação, totalizando 20 volumes encadernados, esta semana marcou o final de um dos grande sucessos atuais da Shounen Jump: Bakuman.

Um final péssimo.Mas antes de falarmos do final em si quero colocar aqui para vocês algo que desde o primeiro capítulo do manga estava claro para mim. Bakuman, ainda que com um tema completamente não usual, sempre foi um battle shounen. Explico. Assim como expliquei (de forma bem sucinta) no vídeo-resposta ao Video Quest sobre Bakuman, ainda que a trama do manga se inicie de fato após Mashiro pedir Miho em casamento com a condição disso só se concretizar quando um manga dele ganhasse anime e tivesse a voz dela no papel da heroína da história, o romance de Bakuman nada mais é do que o empurrão inicial para que a real razão de ser da história possa acontecer.

É a Bulma encontrando o Goku que tinha a esfera de quatro estrelas.

É o Yusuke salvando um garotinho da morte certa por atropelamento.

É a Sakura abrindo o livro das cartas Clow.

Entendem? Assim como Dragon Ball não é sobre o relacionamento do Goku com a Bulma, Bakuman não é um manga sobre o relacionamento do Mashiro com a Miho, ainda que em ambos os casos todo o resto da história simplesmente não teria acontecido sem esse empurrão inicial (isso deve ter nome para quem for da área da literatura, mas enfim).

Bakuman foi, talvez até mais que muitos mangas reconhecidamente battle shounen, um esquema prático de como contar uma boa história de batalhas/conflitos sem necessariamente usar a força física. Dentro da sua metalinguagem idealista E idealizada, a obra de Ohba e Obata conseguia lidar bem com todo processo de enfrentamento de rivais e desenvolvimento próprio dos protagonistas, algo ímpar para um manga desse estilo.

De brinde ainda ganhávamos uma certa aproximação com o mundo dos mangas (mais especificamente da revista Shounen Jump), sem que isso realmente fosse uma grande preocupação dos autores. Isso responde a muitas pessoas que queriam ver mais desse lado no manga e também questiona outras que aceitavam a idealização óbvia do mundo dos mangakas como se o que era apresentado nos capítulos semanais fosse uma cópia da realidade. Mesmo que os autores realmente se espelhassem e reproduzissem fielmente coisas reais, essa nunca foi a proposta do manga.

Desta forma, o que realmente cativava em Bakuman (e muito por isso eu discordo não discordando de muitas críticas que desvalorizam a obra, simplesmente por criticarem pontos não relevantes, ainda que com críticas verdadeiras) era ver a dupla Ashirogi Muto disputando através de suas obras, de seus capítulos, de suas ideias, as batalhas contra seus rivais dentro da própria Jump.

E caramba, como tivemos momentos memoráveis! Como esquecer a batalha épica de todo time Fukuda versus Niizuma Eiji?! Ou mesmo do odioso inimigo (curiosamente o único da série que se baseava muito mais na rivalidade do que na inimizade) Nanamine com suas ideias que iam contra o conservadorismo e o purismo saudosista que Bakuman sempre gostou de colocar, ainda que disfarçando esses ideais com uma camada de rebeldia dos personagens principais (com seu “Vamos mudar a Jump!”, algo que no fim foi ignorado pelos autores). Os “treinamentos” para em seguida a dupla subir mais um degrau em busca do seu verdadeiro objetivo que era derrotar o grande rival, Eiji? 

Bakuman teve um final horrível? Sim, mas isso nem de longe o torna um manga menos memorável. Arrisco dizer que Bakuman não é somente melhor que a obra anterior da dupla, Death Note, como muito mais relevante para a história da Shounen Jump.

Voltando então para falar do final, a quem não leu, um resumo: Após um árduo processo para escolher a voz da heroína do anime Reversi, baseado na obra recém-concluída da dupla e que conseguiu ultrapassar Eiji não somente nos rankings semanais, mas também nas vendas dos exemplares contra o pop Zombie Gun do rival, o anime finalmente vai ao ar e Mashiro, buscando completar os sonhos que seu tio não conseguiu fazer (sendo este o segundo empurrão para obra começar), aluga uma belíssima Ferrari para ir pedir a mão de Miho em casamento na porta de sua antiga casa, onde ambos selaram sua promessa de amor no primeiro capítulo do manga.

Com uma cena que, sim, foi muito bonita, ambos se beijam e selam o fim da obra prometendo ficarem agora sempre um ao lado do outro.

Apesar de ser um pouco tosco colocar o Mashiro dentro de uma Ferrari para completar os sonhos do seu tio morto (sendo de certa forma bem não-romântico) no grande momento dele finalmente poder estar com sua amada, não é isso que eu questiono no final de Bakuman, a questão vai além.

O problema é que não sendo Bakuman uma história focada no romance (sendo este na verdade seu lado notoriamente mais fraco), mas sim nas disputas entre os autores de mangas, que graça tem para o leitor a última cena ser a de um beijo?

Ótimo, eles finalmente se beijaram, 10 anos depois conseguiram completar as juras de amor e serão felizes para sempre, sério, ótimo, fico realmente feliz pelos dois, não sou mais uma pessoa que achava esse romance “idiota” demais para se torcer. Bakuman sempre entregou uma proposta e uma execução idealizada, seja na sua abordagem do mundo dos mangas (e da sua versão real deste), seja no seus romances (ou alguém acha o romance do Takagi com a Kaya e sua devoção serviçal a Ashirogi Muto a coisa mais real do universo?).

Mas desde os primeiros sinais de que Bakuman caminhava para um final começou a ficar nítida uma certa má vontade, especialmente de Ohba, já que o nível do traço nos últimos capítulos tem sido bom, em continuar com a história. E quando eu digo “má vontade” é querendo dizer exatamente isso, não me parece que Ohba planejou minuciosamente um grande final para Bakuman, ele simplesmente juntou as pontas mais grossas do enredo (superar o Eiji, ganhar um anime, resolver o romance Mashiro x Miho) e deu tchau para todo mundo. Aquilo que poderia ser uma batalha épica entre Reversi e Zombie Gun se tornou um mero rodapé que foi resolvido em rápidos quadros.

Pior, Bakuman, com seu elenco recheado de bons personagens que pediam no mínimo uma atenção especial para encaminhar seus finais, acabou com pequenas aparições como Aoki e Hiramaru comprando pratos para o casamento. Me desculpe, Ohba, mas acho que eu li o final errado, aquele recusado pelo editor por ignorar todos os pontos fortes da sua obra.

Há poucos dias respondi no Formspring uma pergunta que resume bem meu sentimento para com esse final ruim de Bakuman. Perguntaram “Quando um anime é muito bom, mas o final dele é ruim, você o considera um anime bom ou ruim?“. E eu respondi que eu considerava simplesmente um anime bom com um final ruim. Bakuman teve sim um final decepcionante, me deixando com a clara sensação de que Ohba já não estava afim de continuar com aquela história e resolveu terminar o mais rápido que pode, sacrificando a qualidade nesse processo.

Porém, de forma alguma (ok, de alguma forma talvez, mas bem pouco) isso vai fazer com que eu veja Bakuman como uma obra ruim. Não somente por ter sido o primeiro manga que eu acompanhei semanalmente, do início ao fim, junto do Japão, mas sim por todos os momentos emocionantes que o manga conseguiu me proporcionar; gargalhando, vibrando, torcendo, me entristecendo, simpatizando, me identificando. Assim como tantos outros mangas, Bakuman para mim sai da Jump para virar um clássico. Um clássico com um final ruim, mas um clássico, marcado para sempre como uma ótima leitura e entretenimento enquanto durou.

Outras opiniões sobre o final de Bakuman (em processo de atualização):

Anikenkai

Maximum Cosmo

Another Warehouse

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23 thoughts on “O final de Bakuman”

  1. Esse final de Bakuman é um que é difícil de “criticar” porque ele claramente é apenas um final, não exatamente uma conclusão. É nítido que tanto o roteirista quanto o desenhista cansaram, perderam a paciência e simplesmente se livraram da série. Ou eles estão cansados ou querem fazer alguma coisa coisa, seja juntos ou separados.
    Lembro que tempos atrás o Didcart comentou um arco que parecia que ia encaminhar para o final da história, mas de um capítulo para outro houve uma mudança de planos. Pode ser que o problema tenha começado ali, por um motivo desconhecido para nós e explodiu nesse final.

    E uma coisa que eu não pude deixar de notar, é que sua descrição dos eventos desse capítulo tem algumas diferenças “sutis” para a descrição do Mais de Oito Mil. Por que será….

  2. O que eu curtia muito em Bakuman era a sensação de continuidade nos capítulos… Como se eles vivessem suas vidas mesmo sem ter ninguém lendo. Mas com esse final fica impossível! Eu jurava que o final seria algo parecido com esse romântico, mas depois Ashirogi Muto voltava com uma outra história e terminaria com a o rosto hilário do Hattori dizendo que era “interessante” kkkkkkkkkk… pena…

  3. Esse final é bom e ruim ao mesmo tempo. ruim obviamente no sentido de ser fraco, de não ter encerrado a obra por completo, de ser um final e não uma conclusão como o Panino disse.

    Mas bom no sentido de ter impedido que a obra se degradasse mais ainda. Digo “mais ainda” por que é nesse exato ponto que discordo da análise aqui. Bakuman já estava em declínio há um bom tempo, talvez desde a serialização de Tanto que sofremos esse terrível ciclo de arcos inúteis e personagens tediosos.

    Provavelmente a continuação do mangá tenha sido algo forçado pelos editores mesmo, algo que explicaria todo esse discurso sobre “terminar o mangá quando o autor quiser” feito pelo Ohba nos capítulos finais. (as vezes é só coincidência, mas né, é uma análise válida)

    É por isso que sofro pra dizer que Bakuman é um mangá “muito bom”, poxa teve tanta confusão e perca de sentido em arcos desnecessários e incabíveis (e não é só Nanamine que estou falando, quem lembra do ladrão que copiava o PCP? por exemplo), que fica até difícil analisar a obra como um todo. Não dá pra simplesmente falar “Ah vamos esquecer o que teve de ruim e desnecessário”

    A arte então nem se fala, alguns defendem que é uma adaptação do Obata para um estilo mais humorístico, mas é possível ver uma clara decadência na qualidade do traço. Acredito mesmo que Obata tenha se enchido o saco de Bakuman, bem antes do Ohba. Chegou ao nível de nem desenhar fundos e cenários direito em alguns capítulos (um dos pontos fortes dele).

    Enfim, acho que no final Bakuman é um mangá “Bom” e só. A decadência da obra não é algo exclusivo do final, já é um processo que vinha acontecendo, há um bom tempo. Teve pontos altos, mas teve pontos muito baixos também (não considero superior à Death Note nem fudendo)

  4. bom, concordo com o Ateu , na minha opiniao Ohba e Obata, nao queriam que a obra Segui-se esse rumo, nao lembro onde eu li, mas parace que a ideia original era simplificar o romance, mashiro iria simplismente namorar com miho enquanto tenta realizar o sonho de seu tio e se tornar um mangaka, que e o que ele realmente gosta, dando espaça para historias de outros personagens, se eu nao me engano li tb que a editora fez ou obrigou (algo do tipo) os autores a fazerem mudanças na obra (para atrair publico “tal” ou ter mais exemplares vendidos). isso explica a ma vontade dos autores no final da obra, ninguem gosta que fiquem fuçando no seu trabalho, principalmente se vc acredita que e um bom trabalho. Acredito que isso e possivel pelo que vejo hj em dia, os animes atuais estao desestruturados, alguns exemplos s~~ao guilt crow, que tinha a possibilidade de ser um otimo anime e acabou como um anime sem nenhum aprofundamento no enredo e com cenas “Cool” para atrair fan que querem ver essas cenas fodas, e outro exemplo e black rock shooter e, nossa esse teria que abrir uma pagina do wikipedia so para as criticas das menininhas com problemas de menininhas e claro para ter essa opiniao vi algumas partes dos animes e li materias e criticas, nao sei se estou certo, mas essa e minha opiniao.

  5. Eu acho que já fazia um tempo que eles queriam fazer o final, mas o ladrão q copiava PCP e arco da Miho Dublador para mim foram ÓTIMOS. Não desmereceram a série em nada.

    Claro a 2ª Aparição do Nanamine foi Mais doq Surreal pra série em si. Teve arcos tediosos como Rabuta & Paz. “Tanto” foi um pouco chato, mas foi um arco pra mostrar como um editor inexperiente pode fuder uma história, e o cara no fim nem cresceu…

    Final foi fraco por ser um fim, não uma conclusão, como dito. Um dos pontos fortes da obra, o carisma dos personagens q ficavam a volta deles, foi esquecida…

    Podia ter UM CAPÍTULO A MAIS, que dava pra dar um fim no minimo decente pra série. Mas pra mim Bakuman foi um clássico, realmente. (Quem sabe em Tankohon essa sequencia fique melhor…)

  6. Nossa, foi um final de merda, mas eu tenho que concordar que Bakuman foi sim melhor que Death Note (q tbm teve um final horrivel) principalmente por sua temática atrativa e incomum, alem de ter varios personagens cativantes que nos fizeram torcer por eles claro teve muitos personagens pé no saco como Miura, Nanamine, Nakai mas o saldo é positivo.
    Esse final deixou mesmo uma impressão de insatisfação dos autores (talvez com a parte editorial da Jump, talvez com a propria história, sei lá) mas espero que a dupla veoltem com um novo grande sucesso, de grande criatividade e com otimos traços.

    1. É foda quando o mundo empresarial destroi obras de arte por dinheiro.
      Mas n concordo que bakuman foi melhor que death note. Bakuman é mais instrutivo, produtivo e cultivador que death note, por apresentar um ambiente que muitos milhoes de pessoas n sabiam como era. Por exemplo, eu n fazia ideia como eram criados os mangás e animes antes de ver a obra.
      Mas Death note, só pelos 17 primeiros episódios, já valem mais que bakuman por sua intensidade. Pelo menos no anime, não sei no mangá.

  7. Concordo plenamente com o que foi dito.
    O final era óbvio. Era o que realmente deveria acontecer. Mas não da maneira que foi.
    Reallmente, Ohba podia feito as coisas menos corridas. Por exemplo a ascenção milagrosa de Reversi, coisa que durou vários capítulos durante as outras séries do Ashirogi, e aqui ocorreu em duas páginas. Como dito no texto, poderia ter sido feita uma disputa épica entre Reversi e Zombie Gun, sim.
    Os outros personagens que não Mashiro e Azuki foram completamente ignorados. Cada um teve dois quadrinhos para a última aparição na série. Não só o caso Hiramaru e Aoki, que foi dito no texto, mas o Shizuka também me chamou muita atenção: Esse foi esquecido durante a série toda, e quando o Ohba lembrou, tacou o cara sem roupa em um quadrinho e pronto, acabou. Aliás, até mesmo o Takagi foi ignorado. Eu esperava uma cena mais “tocante” do Mashiro agradecendo o Takagi e tudo mais.
    Se tivesse mais um ou dois capítulos, Bakuman poderia ter um final perfeito. Eu não achei esse final ruim, achei mal aplicado e corrido, é verdade, mas pelo menos o cara não tentou inovar e destruir o mangá de vez.
    Mesmo assim, Bakuman continua sendo uma das minhas obras favoritas.

    1. Realmente. Por que diabos eles não escreveram alguns capitulos a mais só pra terminar de forma adequada? Assim como aconteceu com REVERSI e CROW? Que ironia não? hahaha
      Se eles não continuaram é porque não queriam. Eles devem ser bons em criar novas ideias, mas não em ficar empurrando as antigas.
      Talvez essa revolução que o time fukuda tanto queria, seria uma indireta pra JUMP mudar a maldita revista de vez. E adequar mais aos autores. (no caso dele, criar as ideias e repassar pra alguém com bom gosto terminar)

  8. Realmente será que essa dupla é amaldiçoada? xD
    ou será que eles apenas desanimam no final?
    eu tambem odiei o final de death note e agora bakuman também..
    bom mas como você disse isso não torna o mangá ruim apenas torna o final do mangá ruim.

  9. Boa análize e crítica!
    Só acho que não dá pra comparar Bakuman com Death Note.
    Death Note começou e terminou de forma excelente. Bakuman começou bem, mas foi se perdendo ao longo do caminho, na minha opinião. E enquanto que Death Note foi prestigiado até o final de sua história pelo bom conteúdo, Bakuman só o foi por ser obra dos mesmos autores, de se tratar do tema mangaka e por simular uma situação parecida que os autores poderiam viver no mundo real enquanto criavam esta obra.
    Enfim, de qualquer modo estarei esperando a próxima história dos autores, se os garotos de Bakuman passaram por tantas histórias até chegar ao sucesso, por que não esperar pela dupla dinâmica do mundo real também?
    Um abraço!

  10. ai eu já discordo, pra mim o final de Bakuman realmente deixou a desejar, mas a construção do mangá foi impressionante. Retratou muito bem a parte dos sonhos de criança de seguir uma carreira difícil, de como você tem que melhorar sempre, do romance complicado, as dificuldades do mundo adulto, etc. Pelo menos pra mim foi superior a Death Note, porém poderia ter mais um ou dois capítulos pra explicar direito o final. Tomara que corrijam isso no anime…

  11. Não podemos de maneira alguma tirar os créditos da historia, a mesma não é ruim nem um pouco, o final não foi esperado? foi sim, só não detalhado e encorpado como deveria ser, foi corrido e tudo se resolveu as pressas (nota-se que os autores ja queriam findar a serie e certamente pensam em algo novo).
    Esse final de Bakuman feito a migue esta acontecendo atualmente com SAO com sua historia, pulando etapas no anime para ser concluído o mais breve possível, e essas coisas tirar o brilho do Manga e certamente prejudica ainda mais o anime, ja que o mesmo ja é bem resumido para caber em determinado numero de episódios.

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