Shonen Jump – Curiosidades Level Master – Parte 3

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Yo!

Voltando para o maior post do XIL até aqui! Curiosidades diversas da Shonen Jump, chegando na terceira parte! Bora ver!

Já checaram as duas partes anteriores? Então, indico ler elas antes. Apesar de não ter ligação direta e não ser necessário saber pra entender este post aqui, vale para entender cronológicamente. Então:

CLICAQUI PRA PARTE 1

E CLICAQUI PRA PARTE 2!

E vamos começar a parte 3! Era de Ouro da Shonen Jump!

GoldenAge

 A Era de Ouro da Shonen Jump

Existe um certo consenso de que o que chamamos de “Era de Ouro” da Shonen Jump começa na edição 51 de 1984. Essa precisão não existe realmente, mas o volume é escolhido como o início dessa fase de glórias da revista por trazer o primeiro capítulo de Dragon Ball, a história que encabeçou todos os anos que se seguiriam, com anos e anos de recordes e números inimagináveis de venda. Não é de se surpreender que a Era de Ouro acabe exatamente no volume 25 de 1995, mesmo ano do recorde histórico de vendas para qualquer publicação impressa na história do mundo. E que trazia o último capítulo de Dragon Ball.

A realidade é um pouco diferente dessa convenção. Já um pouco antes disso, algumas das histórias e autores que iriam fortalecer a Shonen Jump estavam publicando, pavimentando uma estrada que seria cravejada posteriormente com as jóias raras da história do mangá. E depois do período alto, mesmo que uma queda muito forte tenha sido sentida com o fim de Dragon Ball, a mais violenta queda aconteceu na edição 27 de 1996, com o fim de Slam Dunk, o segundo pilar da Jump. Se com o fim de Dragon Ball, a revista finalmente parou de ter uma linha de crescimento constante, com o derradeiro capítulo da série de Takehiko Inoue, a revista perdeu 2 milhões de leitores em um ano. Para se ter uma ideia, isso é mais do que a metade do que ela vende hoje e já na época, era mais do que qualquer outra revista shonen fora do grande trio (composto pela própria Jump, Shonen Magazine e Shonen Sunday) e mais do que a VEJA, revista nacional de maior circulação, vende. Isso significou uma grande mudança nos planejamentos, com demissões em massa, maquinários milionários que eram exclusivos da revista sendo congelados e muito, muito prejuízo para o grupo editorial. Era irônico que a maior crise da história do mangá tivesse acontecido como consequência da maior alta.

O que se seguiu foram trevas. Anos e anos de queda vertiginosa de vendas e desinteresse do público. Se a Era de Ouro durou esses 10 anos, o período negro da revista durou outros 12 anos, quando finalmente a revista se estabilizou e começou a ter alguma subida em seu gráfico. E isso não faz tanto tempo assim. Em 2008, impulsionado pela internacionalização, mas principalmente pelo sucesso de One Piece, Naruto e Bleach, a Shonen Jump alcançou números mais modestos dessa vez, mas ainda surpreendentes. Ela vende atualmente 3,8 milhões de cópias.

GoldenAge1st

Vamos entender mais um pouco dela, em seus pequenos detalhes.

A primeira fase da Era de Ouro começou nos primeiros anos da década de 80. Os três pilares, uma tradição da Shonen Jump, eram compostos por Hokuto no Ken, o maior sucesso dessa época; Kinnikuman; e Captain Tsubasa. Esses três títulos concentravam a maior parte dos votos e apesar de Hokuto no Ken ter mais votos, Kinnikuman fazia mais sucesso com o público mais jovem, o que era importante para a revista, enquanto publicação juvenil.

Em 1982, Masami Kurumada iniciava nova série. Fuuma no Kojiro, apesar de estar aquém do sucesso de Ring ni Kakero, foi resgatado anos depois, em uma série de OVA de 1989 até 1993. O próprio Kurumada acabou fazendo uma continuação póstuma da série, já na Shonen Champion, uma concorrente da Jump. E em 2007, 25 anos depois de sua estreia, Kojiro virou série televisiva.

Seguindo a linha de Kojiro, Kurumada fez Otoko Zaka, que seria sua obra prima, de acordo com o próprio. Porém, ela acabou tendo um final precoce por não corresponder às exigências do público. (LEIA MAIS AQUI) A história foi feita como uma homenagem a um sucesso anterior da Shonen Jump, Otoko Ippiki Gaki Daisho, de Hiroshi Motomiya, que inspirou Kurumada a entrar para o mercado. Ela segue a mesma linhagem de mangá de gangues, e tem até algumas similaridades.

 

O autor de Sakigake!! Otoko Juku, Akira Miyashita, após passar por uma fase péssima com sua banda quando se mudou para Tóquio, decidiu investir em seu sonho de criança e passou a fazer motikomi (visitas à editora para avaliação), até ser apresentado à Yoshihiro Takahashi, autor de Ginga – Nagareboshi Gin, de quem foi assistente.  Mas foi Hiroshi Motomiya quem apresentou ele à um editor que lhe publicou pela primeira vez. Sua primeira série usou o nome de um colégio real e foi denunciado. Posteriormente, ele publicou a história trocando o nome, mas durou apenas dois volumes, menos de um ano.

Miyashita ainda gosta muito de música e é dono de um estúdio, que hoje usa como Home Theater, mas toca sua guitarra às vezes. Aliás, ele é fã de Jimi Hendrix e colocou o Deus da Guitarra em vários de seus trabalhos.

 

Talvez um dos mais inusitados mangás, Shiroi Senshi Yamato saiu na versão mensal da Shonen Jump (hoje, Jump SQ). Nele, um cachorro era o protagonista, mas ao contrário do que se pode imaginar, era uma história pesada, violenta e dramática. Em 1983, ainda com Yamato em andamento, ele criaria para a revista principal Ginga – Nagareboshi Gin, outra série no mesmo estilo de Yamato, e que gerou continuações com o filhote de Gin e diversos spin-offs. A história foi concebida quando o autor, Yoshihiro Takahashi, era assistente de Hiroshi Motomiya. Sua mãe ligou, avisando que seu cachorro havia morrido. Deprimido, ele transformou seu companheiro em herói na série Shiroi Senshi Yamato.

Katsura

Wingman marcava a estreia de Masakazu Katsura, autor que até hoje é respeitado dentro da revista. Ele mandou um trabalho para a Shonen Jump buscando o prêmio máximo. Seu objetivo real era comprar um aparelho de som V55, da Technics, que era praticamente do mesmo valor, que não era pouca coisa, a Jump tinha a melhor premiação dos concursos de mangá. Ele não conquistou o prêmio máximo, poucas pessoas conseguiram isso. Sem o aparelho de som, ele acabou sendo convencido pelo editor Kazuhiro Torishima a fazer mais histórias, juntar dinheiro e então comprar. E apesar de não gostar de mangá, ele está até hoje no mercado.

Apaixonado por séries de tokusatsu, desde a série Denshi Sentai Denjiman, Katsura só pensava em histórias de herói. No entanto, pressionado por seu editor, ele fez uma comédia romântica. A história foi muito bem aceita e, enquanto cursava a escola técnica, Katsura se profissionalizou. Dois anos mais novo que ele, um colega na escola técnica viria a se tornar um dos maiores amigos dele. Katsuya Terada, requisitado ilustrador de séries como Blood the Last Vampire. Terada faria as capas pintadas para a Edição Definitiva de Wingman anos depois.

Essa escola devia ferver de talentos. Um colega de turma de Katsura era Keita Amemiya, character designer de Kamen Rider Black, GARO, Jiban, Metalder, entre outros. Takayuki Takeya, um dos criadores da série de Action Figures SIC também é formado lá e ajudou a criar os designs da série ZETMAN.

Outra figura importante é a cantora e atriz Noriko Sakai. Katsura era seu fã e a conheceu através de duas entrevistas para os encadernados de Video Girl Ai. A mocinha da história, Ai Amano, é admitidamente inspirada em Sakai. Outro fã de Sakai é Masami Kurumada, que colocava frases dela em Saint Seiya.

Katsura queria fazer histórias de heróis, mas Torishima o pressionava a se manter fazendo comédias românticas. Torishima adora o gênero, tendo forçado outro autor que tinha aversão por romance, Akira Toriyama, a casar o Goku. A carreira de Katsura foi marcada por um revezamento entre séries de herói (com romance forçado) e comédias românticas. Torishima, que não foi seu editor depois que ele começou a serializar Wingman, voltou e o fez criar Video Girl Ai, depois de dois fracassos seguidos. Para seu desespero, a série foi um sucesso, provando que ele se dava melhor com o romance. Somente seu atual trabalho com herói, ZETMAN, conseguiu sucesso. Mas essa é a segunda incarnação do herói. A primeira também falhou.

Quem conhece os trabalhos de Katsura tem uma impressão forte de que Katsura é fã de Batman. Mas ele já declarou que é fã dos filmes de Batman e nunca se interessou em ler os quadrinhos. A paixão de Katsura é o cinema e mais de uma vez, ele declarou que quer dirigir um filme.

No entanto, ele realmente coleciona coisa relacionada ao Batman, por gostar do personagem. Ele também foi chamado para fazer o modelo de uma action figure baseada em The Dark Knight, para a série Movie Realization, da Bandai, que ainda acompanha o Bat-Pod. Ah, e sua cadela se chama Alfreko, por causa de Alfred.

Muito amigo de Akira Toriyama, eles já fizeram dois trabalhos conjuntos. Além disso, os dois sempre se reverenciam nas histórias. Em DNA², o Mega Playboy ganha uma forma mais poderosa inspirada nos Super Saiyajins. Cell e Zetman (do primeiro One-shot) têm designs parecidos. E o fusion teria sido criado em uma conversa entre os dois. E quanto mais se procurar, mais referências você pode encontrar.

Claro, vale citar seu trabalho fora do mangá. Ele criou designs para dois animes, IRIA/Zeiram e Tiger and Bunny, além do game Love & Destroy. Também ilustrou uma edição de “Dois Anos de Férias”, livro de Julio Verne.

(curiosidade extra: Katsura é meu autor favorito, fiz essa parte quase sem consulta.)

 

Em 83 ainda estreou o grande sucesso, Hokuto no Ken. Bem diferente de muito o que saia na revista, o clima pessimista e a violência no limite agradaram principalmente os mais velhos. Foi o título mais popular da revista durante a década de 80.

Não é citado, mas a história conta os últimos dias da humanidade. Até o fim da história, não sabemos disso, mas o autor, Buronson, confirma que a humanidade acaba pouco depois do fim do mangá.

As influências de Hokuto no Ken são uma mistura doida. Primeiro, temos Mad Max 2 e Os Gritos do Silêncio (Killing Fields). Também do cinema, temos Bruce Lee. Mas o roteiro foi inspirado em uma experiência real de Buronson, quando visitou o Cambodja e pode ver a destruição causada por Pol Pot, o ditador comunista que praticava massacres no país. As cidades destruídas do Cambodja e sua população criaram o tom de desespero do universo de Hokuto no Ken.

Kenshiro, o protagonista da série, foi criado inspirado em Yusaku Matsuda (o mesmo ator japonês que inspiraria Ao Kiji, de One Piece), Bruce Lee e Mel Gibson, em Mad Max 2. Mas o físico é inspirado pela arte de Frank Frazetta, clássico artista de Conan, o Bárbaro.

Apesar de ser um clássico da Jump e de sua editora, Shueisha, a edição definitiva saiu pela rival Shogakukan. Atualmente, os direitos estão em outra editora, a Coamix, que Tetsuo Hara montou junto de outros autores dessa época da Shonen Jump.

Tetsuo Hara era novato na época, mas Buronson já era velho de casa. Fez roteiros para Crime Sweeper e Dobberman Keiji na Shonen Jump e foi outro assistente de Hiroshi Motomiya. Buronson, mais tarde, faria Sanctuary, publicado no Brasil pela Conrad e cancelado. Hara, por sua vez, foi assistente de Yoshihiro Takahashi, de Ginga – Nagareboshi Gin, e estudou com Kazuo Koike, autor de Lobo Solitário. Em um parágrafo, já tem mais testosterona que nos dois filmes dos Mercenários do Stallone.

Hara é primo de um comediante famoso, Ryo Fukawa. Mas eles passaram quase que a vida toda sem se ver, só voltaram a ter contato quando Fukawa gravou um CD e pediu para Hara fazer a arte.

Raoh, o grande vilão carismático da série, é um dos poucos personagens fictícios que tiveram um funeral de verdade.

Hokuto no Ken mudou a forma de pensar do mercado de mangás, que passaram a criar mais mangás onde o objetivo era dar uma surra em capangas, pegar o chefão e ter uma luta épica. Incrivelmente, na época, isso era raro. Na Shonen Jump, isso se sentiu logo nos anos seguintes, quando Dragon Ball passou a ter mais lutas do que aventuras por pressão editorial.

Um filme americano de Hokuto no Ken saiu como Fist of the North Star, com Gary Daniels (o Brian Fury do medonho filme de Tekken) no papel de Kenshiro e Malcolm MacDowell (Laranja Mecânica) como Ryuken. Na verdade, o filme era um esforço conjunto dos estúdios Toho e Toei para produzir filmes nos Estados Unidos. O filme foi mal, em todos os sentidos.

O game do saudoso video game Master System chamado Black Belt era uma montagem em cima de um game de Hokuto no Ken.

Hokuto no Ken destruiu muitas vidas ao ser o tema de uma maquina de SLOT, aqueles caça níqueis eletrônicos. A série de Hokuto no Ken popularizou as máquinas diante do reinado absoluto do Pachinko entre os jogos de azar do Japão e também tornou mais comum o uso de franquias de mangás nessas máquinas, para atrair o público.

Uma prequel de Hokuto saiu entre 2001 e 2010, pela Coamix, editora que Hara montou com outros artistas. A série Souten no Ken foi carro-chefe da revista Comic Bunch.

 

Em 1984, a Shonen Jump perdia muito terreno para as outras revistas pela falta de um gênero que crescia muito na época. A comédia romântica. Além de pressionar Masakazu Katsura, a revista aproveitou que o traço do novato Izumi Matsumoto era adequado e o fez criar histórias nessa linha. Assim nasceu Kimagure Orange Road, um dos maiores sucessos do gênero dentro da história da revista.

Porém, perto do fim, o autor teve um grave problema de saúde. Ele teve uma queda espontânea de líquido espinocerebral (se minha tradução estiver correta), mas não sabia durante a produção do mangá. Precisou tirar folgas por causa do doença, que foram cobertas por seu assistente, Kazuki Hagiwara, que viria a fazer o mangá Bastard!! na Shonen Jump, que ainda é publicado. Por isso, muitos capítulos de KOR tem o traço de Hagiwara.

O mangá todo recebeu muitas revisões em suas encadernações por causa dessas pausas.

Anos depois, Matsumoto iria publicar dois capítulos extras, um pela Super Jump e a outra pela Playboy (da Shueisha, sem relação com a americana, que também sai no Japão).

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E na edição 51 de 1984 esterava Dragon Ball. E oficialmente, se iniciava a Era de Ouro da Shonen Jump. O terreno estava pronto. Naquele ano, a revista tinha em sua linha:

  • Dragon Ball – Akira Toriyama
  • Captain Tsubasa – Yoichi Takahashi
  • Bakudan – Hiroshi Motomiya
  • Hokuto no Ken – Tetsuo Hara e Buronson
  • Kinniku Man – Yudetamago
  • Highschool Kimen Gumi – Motoei Shinzawa
  • Wingman – Masakazu Katsura
  • Kochi Kame – Osamu Akimoto
  • Ginga – Nagareboshi Gin – Yoshihiro Takahashi
  • Kimagure Orange Road – Izumi Matsumoto
  • Baoh Raihousha – Hirohiko Araki

Entre outros. Era uma lista estável, com autores competentes e títulos variados, com romance, aventura, gekigá, heróis, comédia, todos em títulos que até hoje são lembrados. Ok, menos o do Araki, é anterior à JoJo.

 

Para curiosidades de Dragon Ball, sugiro ler alguns posts anteriores.

Dragon Ball – Curiosidades level master

A lenda Toriyama – mitos ou verdades?

Toriyama responde: Se você pudesse voltar e refazer Dragon Ball, o que você mudaria?

Para acrescentar? Rola um boato de que esse é o endereço de Akira Toriyama. Faz algum sentido, mas ainda não tenho relatos de alguém que o avistou ou tocou sua campainha. Então, é só um BOATO, ok? CLICAQUI, mas não acredita, viu?

 

Em 1985, estreava o segundo e maior sucesso de Tsukasa Hojo, City Hunter. Falei mais do autor na parte 2 deste texto.

City Hunter teve três filmes diferentes em Hong Kong. O único oficial é o protagonizado por Jackie Chan, uma bizarrice em que ele até usa golpes de Street Fighter 2.

Recentemente, os coreanos fizeram uma série para TV, com Lee Min Ho (de Hana Yori Dango Korea) como Ryo Saeba e Koo Hara, do grupo pop KARA como sua cliente.

Atualmente, Tsukasa publica Angel Heart, em uma segunda fase, na Comic Zenon. A história é um remake de City Hunter.

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Somente em 87, seis anos depois de sua estreia, Hirohiko Araki conseguiria alcançar o sucesso. Estreava JoJo no Kimyou na Bouken. Considerado um dos mangás mais excêntricos da época, JoJo nasceu de muita meditação e experimentação. Após muito falhar, Araki começou a calcular os passos para criar um mangá que pudesse ser popular, único e especial. Não é por menos que a obra é considerada “o mainstream experimental”.

Muito do mangá de batalha de hoje nasceu em JoJo.

As onomatopéias que não demarcam sons naturais, como o farfalhar de folhas, o uivar do vento, etc, foram colocados por Araki por influência do cinema de suspense, que ele adora. São sons que representam os sentimentos dos personagens, como a música do Tubarão ou o som da cena do banho de Psicose.

Ele também começou a transformar os desafios de força dos mangás de luta em desafios estratégicos, onde nem sempre o maior poder ganhava. Coisa que Hunter x Hunter faz hoje.

Também foi um dos primeiros a usar representações físicas dos poderes, como raios, luzes e os próprios Stands que aparecem na fase 3 do mangá. Ele atribui esse tipo de representação à um colega, Katsuhiro Otomo, que sempre tratava o “ar” em volta dos personagens, criando efeitos que representavam o poder.

Para se destacar, ele estudou seus rivais diretos. Em Hokuto no Ken, Captain Tsubasa e Ring ni Kakero, as cenas de destaque eram sempre marcadas por poses de impacto. Para não copiar, ele estudou outras poses e acabou se encontrando em revistas de moda e no trabalho do pintor Egon Schiele e seu tutor, Gustav Klimt, que abusavam de poses estravagantes e de um estilo forte. Mas ele admite que sofreu muita influência da arte renascentista italiana, principalmente de Michaelangelo.

Suas influências vão do mangaká Mitsuteru Yokoyama, de quem Babel 2sei inspirou a 3ª fase de JoJo, até artistas europeus e americanos, como Hugo Pratt, Frank Frazetta e Enki Bilal. Também bebe muito da moda, se diz fascinado pelo estilo da revista VOGUE e muito de seu design é inspirado em Versace e Moschino.

Essa bagagem que vai um passo além da cultura pop e belisca na alta arte, atraiu uma resposta. JoJo teve exposição no Museu do Louvre, além de ter feito projetos com a GUCCI, UNIQLO e Adidas e ter sido jurado de concurso de moda no Japão. Uma carreira inusitada para qualquer outro mangaká.

No entanto, mesmo com todo o sucesso tanto de público quanto do lado cult, um anime televisivo de JoJo só foi ser produzido em 2012. Também são poucas as adaptações levando em conta o seu peso e seus contemporâneos de igual valor. No mundo mesmo, somente alguns poucos países conheciam JoJo antes do anime recente, que iniciou um boom tardio para a obra.

Um mangá muito influenciado por JoJo é Yu Gi Oh. O próprio autor, Kazuki Takahashi, admite que a série se baseia muito na terceira fase de JoJo, em vários aspectos. As representações físicas das cartas foram copiadas dos Stands. Muito dos designs e até sua própria arte é inspirada no trabalho de Araki.

Apesar de praticamente todas as séries de JoJo receberem o título de “JoJo Bizarre Adventure”, em inglês, somente a quinta, Vento Aureo, recebe o título em italiano, Le Bizarre Avventure di Giogio.

Claro que uma peculiaridade da série é ser uma só e oito ao mesmo tempo. Isso porque todos os personagens pertencem a uma mesma família, mas cada trama acontece quase que completamente à parte, em eras e lugares diferentes.

As meninas do CLAMP já fizeram um dojinshi de JoJo.

O seriado americano Heroes sofreu uma grande influência da obra. Primeiro, Hiro se inspira em Jotaro Kujo em diversos aspectos, inclusive nomeando seu blog com o nome do personagem. Além disso, em alguns episódios, eles chegam a usar o “MudaMudaMudaMudaMudaMudaMudaMuda” de JoJo.

Em certa cena do OVA, Dio Brando começa a ler um texto em árabe para ordenar um assassinato à seus capangas. Mas o texto foi tirado do Corão, o que irritou os islâmicos. Foi um erro da empresa japonesa que fez a animação e queria fazer um charme ali e acabou não pesquisando o que colocou.

 

Um dos piores momentos da Shonen Jump aconteceram em plena Era de Ouro. O mangá Moeru! Oniisan, uma gag mangá extrema, cheia de piadas violentas e palavrões, acabou atraindo a atenção dos pais e do governo. Algumas piadas envolviam orelhas e dedos cortados, preconceito social, incentivo à violência, etc. E então, na edição 45 de 1990, a Shueisha foi obrigada a recolher a revista e cancelar o mangá até ele atender à normas mais rígidas. A Jump pediu para que os leitores retornassem as edições que já haviam sido vendidas e enviou em troca uma lapiseira com o logo da revista. Só de prejuízo, se calcula que esse incidente tenha gerado um rombo de 100 milhões de ienes! Na época, a sede da Shueisha perdeu dois andares para estocar as revistas até uma medida ser tomada.

No entanto, o mangá voltou algum tempo depois, já passando por um crivo mais pesado. Tadashi Sato, o autor, colocou um “2” ao lado do título e continuou a série. Nos encadernados, muitas falas foram censuradas. E apesar de todos os problemas, a série teve até uma versão animada.

KOR-Bast-Moeru

Bastard!!, de Kazuki Hagiwara, é um dos mangás que mais sofrem com atrasos. Ele já foi serializado na Shonen Jump duas vezes, com um curto período em outra revista da linha. Somente em 2001 ele se estabilizou na Ultra Jump. Mas os atrasos continuam.

Seu estilo de arte, carregado em retículas, que davam um ar mais realista aos quadros, foi muito comentado na época. Mas também deu muita dor de cabeça para editores. Quanto mais retículas, mais difícil é acertar a impressão.

Todo o conteúdo que ele fez fora da revista principal da Shonen Jump (antes de sua transferência para a Ultra Jump) deveria estar no 19º volume de Bastard!!. Mas Hagiwara acabou publicando aquilo por conta própria, como um dojinshi chamado Bastard!! Mishoyou Kaiteiban (Versão – Revisão não utilizada)

Quem reclama de Hunter x Hunter não sabe o que é ler Bastard!!. A série começou em 1988 e entre indas e vindas, tem apenas 27 volumes nesses 25 anos.

Hagiwara foi assistente de Izumi Matsumoto em Kimagure Orange Road (lá em cima) e quando o autor teve os primeiros problemas de saúde, os assistentes tomavam as rédeas. Como Hagiwara desenhava melhor, ele ficava responsável pelo desenho.

Em paralelo à isso, ele ainda fazia seu dojinshi Project A-ko. Até hoje, ele continua fazendo dojinshi, um raro caso de profissional que mantém isso por hobbie.

 

Depois de um bom tempo sem ver algo nesse estilo, a Shonen Jump se reencontrava com os mangás de gangues de escola com Rokudenashi Blues, de Masanori Morita. A série definiu uma geração de delinquentes e fez muito sucesso até mesmo fora do Japão.

Os subtítulos das histórias são tirados de músicas dos Rolling Stones ou da banda punk japonesa Blue Hearts. Estes últimos ainda aceitaram serem transformados em personagens da série.

Morita foi fumante por um bom tempo. Depois que decidiu parar, ele marca toda semana alguma página de seu mangá, para o fazer lembrar o tempo que está sem fumar. Ele continua fazendo isso até hoje, em sua série atual, Besharigurashi.

Sua família servia à um templo e seu pai queria que ele continuasse a tradição. Mas Morita pediu “4 anos, como se eu tivesse ido à faculdade” e se empenhou em sua carreira. Mais tarde, ele adotou um filho e esse garoto é que está treinando para tomar o lugar do pai de Morita.

Quando criança, Morita era fã de Fujiko Fujiyo A, autor do Super Dínamo (Pa-Man) e outros mangakás daquela geração. Quando Osamu Tezuka era o convidado de um evento, ele e seus amigos foram para mostrar seus mangás para ele. Mas Tezuka cancelou e o encontro nunca aconteceu.

Como autor, Morita investiu seu talento somente em coisas que gosta e acredita. Rokudenashi Blues fala do colegial delinquente e de rock, assunto que permeia suas histórias soltas da época. Rookies fala de beisebol. Besharigurashi é sobre manzai, a comédia stand-up japonesa. Morita é fã de Hitoshi Matsumoto, comediante e diretor, da dupla Downtown, que encabeça aquele famosos programa de comédia sádico, o Gaki no Tsukai ya Arehende!! 

 

Outro assistente de Hiroshi Motomiya se tornou autor durante a Era de Ouro. Foi Tatsuya Egawa, de Magical Taruruto-kun. Posteriormente, ele ficou famoso por Tokyo Daigaku Monogatari e Golden Boy. Curiosamente, ele não estreou na Jump. Nem ao menos na Shueisha. Seu primeiro trabalho foi Be Free, na Morning, revista da Kodansha. Dai, ele voltou para a Shonen Jump, onde fez diversas comédias infantis.

Egawa criticava duramente muitos dos autores do passado, como Tezuka e Fujiko F Fujiyo. Taruruto-kun foi criado como uma antítese à Doraemon, obra máxima de Fujiko F. Ele dizia que a obra alimenta falsas esperanças nos leitores.

Ele também tem contrato com uma agência de talentos, a HoriPro, fazendo aparições na TV, como comentarista. Ele já fez até um reality show para treinar mangakás, mas não durou muito. Acabou depois de um único episódio dentro do programa Gachinko!, apresentado pelo grupo pop TOKYO.

É fato o que dizem sobre os mangakás de sucesso. Que eles compram Ferraris. Egawa comprou uma Mercedes Benz SLR McLaren! Ele costuma aparecer na TV com o carro.

Egawa abandonou os assistentes após se enfurecer com a falta de senso de responsabilidade deles. Hoje ele faz tudo sozinho e está satisfeito. Assim, não precisa se ater à horários. Ele já teve Kousuke Fujishima (Ah! Megami Sama) entre seus assistentes.

Quando Tokyo Daigaku Monogatari virou série para a TV, com o SMAP Goro Inagaki no papel principal, Eguchi exigiu que os roteiros fossem checados por ele. Dessa experiência, ele começou a fazer roteiros para a TV e, de repente, para filmes pornôs! Sua carreira no mercado dos filmes adultos é bem longa. Usando o poder da produtora pornográfica Soft On Demand, ele fez um filme baseado em Tokyo Daigaku Monogatari, onde ele roteirizou e dirigiu.

Atualmente, ele até interpreta, aparecendo em séries como 13sai no Hello Work (de 2012), como ele mesmo, e durante uma cena real de trabalho preparando um mangá. Ele também pegou papéis mais ousados que isso. Mas toda essa desenvoltura com a televisão é malvista entre os colegas mangakás, onde muitos veem ele como estrelinha.

GchanTaruRoku

Poucos sabem, mas o artista de Bakuman e Death Note já estava na Shonen Jump desde a Era de Ouro, quando publicou Cyborg G-chan, uma série de comédia muito aquém de suas séries futuras. No entanto, seus quatro volumes têm muitos fãs.

Osamu Akimoto declarou que queria ver mais da série. E fez o seu personagem Kankichi Ryotsu, de Kochi Kame, falar isso em uma história. No game Saga Frontier, todos os robôs têm o “G” no nome, em homenagem.

Obata estreou com apenas 17 anos, após ser premiado no concurso da revista. Trabalhou quatro anos como assistente e estreou com Cyborg G-chan usando o nome de Shigeru Hijikata. Mas apesar de sua arte ser boa, seus roteiros não melhoravam. Logo ele se tornou artista para outros roteiristas

O artista fez ainda um obscuro mangá de sumô, chamado Rikijin Densetsu – Oni wo Tsugu Mono. O roteiro era de Masaru Miyazaki, com quem faria depois Karakuri Zoushi Ayatsuri Sakon. Mas nesse segundo trabalho, ele usou outro nome, Sharakumaro.

Ele é muito amigo de Hiroyuki Asada (Tegami Bachi) e de Shou Tajima (parte animada de Kill Bill). Os três inclusive têm traços muito parecidos e já fizeram uma equipe, chamada Mizugame 3, fazendo ilustrações.

Outro amigo bem próximo é o mangaká Masanori Morita, com quem fez Hello Baby, um one-shot especial.

Obata treinou muitos bons mangakás. Um deles foi Nobuhiro Watsuki, que trabalhou com ele em Cyborg G-chan até Rurouni Kenshin começar. Watsuki o respeita tanto que sempre responde que o artista que mais o influenciou foi Obata e que os mangás que o influenciaram foram a obra completa de Takeshi Obata. Baba ovo!

Outro bom artista que aprendeu com Obata foi Yusuke Murata, de Eye Shield 21 e One-Punch Man. Kentaro Yabuki (To Loveru) e Yoshiyuki Nishi (Muhyo to Roji no Mahouritsu Soudan Jimusho e Bokke-san) também. Os três ajudaram Obata em Hikaru no Go.

 

Impulsionado pelo sucesso do game e usando um acordo que envolvia Akira Toriyama, a Shonen Jump estreava Dragon Quest – Dai no Daibouken (Fly, o Pequeno Guerreiro no Brasil). Feito como caça níquel para aproveitar o sucesso fora do comum que o game fez, a série não seria muito longa e foi planejada de antemão. Mas a própria série acabou agradando os leitores e foi ampliada em um arco.

Existem magias e itens que nasceram neste mangá e depois foram levadas para o game, como o Medoroa.

Pop era muito querido pelo roteirista, Riku Sanjo. O personagem deveria servir de contraponto ao poder dos outros personagens, sendo um humano no meio de sobre humanos. Mas os leitores detestavam o personagem e o editor na época mandou matar ele. O roteirista protegeu Pop e o impediu de morrer cedo.

Sanjo era jornalista e havia feito alguns roteiros para animes. Aceitou o trabalho oferecido pelo editor Torishima por já ter entrevistado Yuji Horii, criador da série e simpatizado. Atualmente, Sanjo é roteirista para a TV, sendo o chefe dos roteiros de Kamen Rider W, Kamen Rider Fourze e Jyuden Sentai Kyoryuja.

Do outro lado, o artista Koji Inada foi assistente de Masakazu Katsura. Dai no Daibouken estreou um pouco antes de Video Girl Ai. Anos depois, ele voltaria a formar parceria com Sanjo em Boken Oh Beet. A série fez sucesso, mas Inada adoeceu em 2006, quando o mangá estava com 10 volumes. Ele continua afastado do trabalho e a série, em hiato.

Inada teve Kyosuke Usuta (Pyu! to Fuku Jaguar) como assistente.

DaiDaiBouken

Em 1990, dois talentos entrariam para a revista com 9 semanas de diferença. Takehiko Inoue chegou primeiro, com Slam Dunk. Em seguida foi a vez de Yoshihiro Togashi estrear YuYu Hakusho. As duas séries formariam o novo pilar da Shonen Jump junto de Dragon Ball, que já estava estabelecido como carro chefe da revista nesse ponto. É a segunda fase da Era de Ouro.

 

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13 ideias sobre “Shonen Jump – Curiosidades Level Master – Parte 3”

  1. Show de bola! A era de ouro é muito contagiante só fera com títulos fodas. Acho que uma era de prata ainda não chegou, principalmente por que hoje ainda é seguido as bases e ideias que esses autores da era de ouro criaram, hoje é difícil achar algo realmente novo nos mangás, a maioria segue a receita de bolo rentável dos caras antigos, não sei o quanto tem do dedo dos editores nisso.

  2. Ótimo post!Sou novo aqui e o parabenizo pela qualidade e quantidade de informação!XD

    -Você acha que no futuro essa época que estamos vivenciando com Naruto, bleach e one piece será chamada de época de prata(irá terminar quando One piece acabar)?

    Pergunta irrelevante eu sei.

    1. Humm, eu acho que sim, a Jump está numa era de prata, mas arrisco dizer que estamos chegando oficialmente nela só agora.

      One Piece, Bleach, Naruto, Toriko, Assassination Classroom, Kuroko no Basket.

      Todos esses vendem mais de 500 mil cópias cada volume (alguns levam mais tempo do que outros, mas vendem).

      1. Acho que é meio precipitado. A fase de ouro da Jump tinha mangás tão bons que os cinco de baixo tinham City Hunter e Video Girl Ai, por exemplo. Hoje, a maioria nem liga pro que está nos últimos lugares e acaba sendo cancelado. Acho que a gente a revista tá dependente de One Piece. Se o Oda morre, a Jump perde 2 milhões de leitores pelo menos.

        1. Eu sei que é diferente de um “final de One Piece”, mas nas quatro semanas de férias do Oda, a Jump vendeu “apenas” 100 mil edições a menos… Eu imagino que com um “fim de OP” não acho que a Jump perca mais de 500 mil em circulação…

          Lembrando, que pra mim isso seria uma época de prata, para uma segunda era de ouro, estaria muito longe, hehe.

  3. Esses posts me fazem abrir várias “abas” de pesquisas, já que essas curiosidades geram ainda mais curiosidades XD.
    Muito bom, que venha a próxima parte.

    1. Espalhaê que eu não tava brincando, tem que ter pelo menos 100 compartilhamentos nos botôes senão eu não vou começar! (mentira, já comecei, mas não vou postar!)

  4. Simplesmente genial! Um dia gostaria de conhecer as fontes da pesquisa, pois algumas informações principalmente do Hokuto no Ken (mangá o qual fiz um texto de abertura de meu blog), apesar de ter pesquisado, realmente não encontrei muito do material de referencial e com certeza usarei seu post como referência. Muito nostálgico, muito mangás que li quando comecei a usar e abusar dos readers na Internet (ainda em inglês) e quanto ao JoJo, gostaria de acrescentar que ele é citado dentro do Rurouni Kenshin em pelo menos 2 cenas. Agora espero pela parte 2 da parte 3 do post hahaha! Parabéns!

        1. Eu também compro!

          O nível destes posts é incrível! Ter tudo isso em um livre seria bem interessante, ainda mais se fosse ilustrado.

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